quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

POEMA PARA TEMPOS DE CRISE

A crise não perdoa. Afeta tudo. Vai muito alem das questões dos bolsos e dos cortes necessários no orçamento. Você vai ouvindo o noticiário e os seus sonhos vão diminuindo ou sendo adiados. Sua coragem vai desaparecendo, seu astral vai para o beleléu. É claro que a poesia não poderia ficar indiferente a esse ambiente. Por isso, pensei em um poema que se adaptasse aos novos tempos, tanto em forma como em conteúdo. Um poema que utilizasse poucas palavras para dizer muito, feito um salário que precisa chegar ao final do mês. Mas nada me ocorria. Estava meio travado, sabe. Precisava de algum estalo, algo que despertasse em mim uma inspiração para converter em poesia nossa dura realidade. Então, estava eu na rua, caminhando, como faço todos os dias, entretido com minha voz interior, quando meu pé colidiu com algo de forma violenta. Pessoas se assustaram com o barulho produzido pelo impacto. Como reação, fechei os olhos e comecei a pular num pé só, tentando conter o grito de dor. Em seguida, inúmeros impropérios apareceram em minha cabeça para dizer a seja lá quem que havia se intrometido diante de meu passo. Aos poucos fui me acalmando, fui me restabelecendo e de repente surgiu por completo, em minha cabeça, o poema que veio do pé.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra